Meuveaunt, Destino
Mestre Castelão do Forte das Armas, Cordilheira da Espada
Caro Mestre Castelão.
Nada a declarar. Dias
não relevante.
Favor providenciar que
epístola em anexo chegue ao senhor Meu Pai. Não precisa saber de
seu conteúdo.
Mesmo!
Confie em mim!
Tholen da Torre do
Martelo.
Meuveaunt, Destino
Chefe Bufir da Torre do Martelo, Forte das Armas, Cordilheira da
Espada
Caro pai:
Estou em grande
turbulência.
Imagino que tenha se
reunido com o Mestre Castelão ao longo desses meses em que escrevo
ao senhor. Claro, havia um pouco de desabafo na carta anterior por
não poder cumprir a palavra dada em Hillsfar, postergando minha
vingança. Mas isso é nada diante dos eventos mais recentes.
Deixamos Hillsfar na
calada da noite, pois com aquele antro de ignorância, ou faríamos
isso ou teríamos de eliminar todos os humanos – incluindo mulheres
e crianças – daquela maldita terra... E não vou mentir que tal
crueldade chegou a me ocorrer, mas eu sou um anão ocupado, como bem
sabe, para perder tanto tempo.
Elventree ainda era
paragem amigável, fora que Ulblin, nosso contato com os Harpistas,
concordou que ainda estávamos ao alcance dos tentáculos de
Hillsfar, e que retornar ao Norte seria uma boa coisa até os ânimos
acalmarem. Ele inclusive nos conseguiu transporte. Uma barcaça de
três mastros e 50 braços pertencente à pirata Scarlet do Mar da
Lua.
Novamente, os harpistas
nos envolvem com pessoas de índole, no mínimo, questionável. Mas
em sua conversa, sentíamos que a cólera da capitã meio-elfo era
direcionada a Hillsfar. Isso até o primeiro fim-de-tarde. Uma escuna
foi avistada nos arredores. Não trazia bandeira – o que por si só
o classifica como navio-pirata. Ao aproximar-se de nós, o brasão de
Hillsfar eleva-se em seu mastro.
Era um combate que se
avizinhava. Felizmente, a cólera rubra de nossa capitã era genuína,
e ela passou a fazer manobras ofensivas. Mas sem saber se era uma
mera patrulha ou se nos perseguiam, usei um disfarce de bucaneiro
ordinário, para pegá-los de guarda baixa. Mas a peleja não chegou
a começar. Faelar analisou nossos adversários e contatou grande
número de não-humanos na tripulação, inclusive na capitania.
Aquilo era incondisente com a política de Hillsfar.
Conseguimos da capitã
um voto de confiança, e trocamos sangue por palavras com aquela
escuna. Isso bastou para a bandeira da colina deixar lugar para uma
branca. Tratava-se de meros comerciantes que escolheram um brasão
assustador para assustar piratas, sendo infeliz ao por o alvo em si
próprio, uma vez que Hillsfar era inimigo jurado da capitã... E
nosso.
Mas daí ocorreu o que
eu preferia não saber. A extorsão. Capitã Scarlet exigiu 10% da
carga do saveiro para deixá-los seguir. E eu estava indiretamente
envolvido.
Claro, antes de buscar
um consenso entre todos, Faelar já auxiliava a capitã em suas
ameaças. Nyn tentava apelar para o “coração” da corsária, mas
foi inútil.
Eu? Estava dividido.
Havia essa “lei do mar”, e a desvantagem era muito grande.
Cinquenta bucaneiros contra menos de vinte na barcaça. E o próprio
time estava dividido. O ninja obviamente tomaria o lado do mais
lucrativo, e eu não queria parecer ingrato, já que ele permaneceu
comigo nas ruas de Hillsfar contra os soldados. Acabei optando pela
omissão.
Esta era mais uma face
do “mal menor para controlar um mal maior” dos Harpistas.
Hillsfar mantêm os Zhentarins controlados em terra, Scarlet mantém
os hillasfarianos acoados no Mar da Lua. Bem, ao desembarcar,
comentei que desejava voltar à tripulação... Mas se Hillsfar cair,
a importância da meio-elfa vermelha desaparece... Por isso, não
comentei quais seriam os termos.
O resto da cambada fez
compras em Elventree mesmo. Eu sabia que Melveaunt teria melhores
opções, por ser uma cidade maior. Depois de estabelecido no
Guerreiro Flutuante, comecei a me informar sobre Yoham – o segundo
da minha lista – E aprimorar meu equipamento. Isso me tomou dois ou
três dias. Passamos bom tempo espalhados cada qual cuidando de seus
afazeres.
A refeição era algo
que acabava nos reunindo. Fazia um bom tempo que não víamos Gatts e
Rick/Ricka. E com isso, era a primeira vez que o grupo não possuía
humanos. Assim, eu e Faelar começamos a enumerar as desvantagens que
esses mal-amados tinham. Coisa de viver menos de um século, não
enxergar de noite, etc.
Eis que um ébrio
barbudo se levanta. Humano torpe, avantajado. Decidiu tirar
satisfações por nossos comentários felizes. E não satisfeito da
pouca monta de ameaça que ele nos representava, agarrou-se à nossa
mesa e a virou.
Claro, tencionava
fazê-lo se arrepender de ter saído de casa naquele dia... Mas
Faelar foi mais rápido. Rápido e desleal. Por uma mera briga de
bar, começou a esfaquear o grandalhão, tal qual atacaríamos uma
ameaça de verdade.
Eu separei-o um
instante. Sangue já estava derramado, iríamos ter o que explicar em
breve... E tentei levá-lo para longe do cretino... Mas foi só eu
dar as costas, e o enfurecido ninja atacou de novo.
O que fazer? Eu o
desarmei, e enfim, saquei armas... Mas com um truque, o bastardo
deixou minha vigilância, e deu a estocada final, ainda torcendo
lâmina no corpo do bêbado. No meio do bar, cercado de
testemunhas... Não que isso fosse o único motivo para não
esquartejarmos qualquer idiota que bate-boca nos bares!
Era a segunda vez em
pouquíssimo tempo que o Ninja cai em meu conceito. Não sou bom de
contas... Mas deixá-lo ir embora salda qualquer dívida que eu tinha
com aquele assassino covarde.
O bolo fecal espirrou
em todos nós. A Guarda da Cidade nos deu ordens para não deixar os
muros da cidade. Bem, o que fazer? Sei que aqueles guardinhas não
têm meios de pegar o ninja... E então compra inimizade justo
conosco, que teria conhecimento e poder para levá-lo à justiça!
Os harpistas saltaram
fora do barco na primeira oportunidade. E coisas como “princípio
da personalização do crime” e “inocência até que se prove a
culpa” não existem? Todos nós somos penalizados por conhecer a
criatura? Quando desmantelamos a Boca do Inferno e debandamos o
acampamento de ladrões nos arredores de Fylan, ninguém lembra...
O ninja tentou nos
contatar de novo. Só causando mais desgaste em sua mãe, Nyn.
Então, meu pai, é
isso: Virei as costas à justiça porque um malfeitor impedia o
crescimento de outro, derramei sangue com e por seres menos que
dignos, as ordens e os “poderes do mundo” são meramente
interesseiros. Honestamente... Penso em concluir minhas vinganças
autoimpostas e de lá retornar a minha casa ou juntar-me à armada de
retomada de Tethyamar. Expurgar-me de Harpistas e ninjas para pensar
com clareza, ou, se for o caso, morrer por uma causa digna.
Tholen da Torre do
martelo, Vingador frustrado e Flagelo de Vorbyx.
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