quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Carta 23

28 de Elesias

Meuveaunt, Destino Mestre Castelão do Forte das Armas, Cordilheira da Espada

Caro Mestre Castelão.

Nada a declarar. Dias não relevante.

Favor providenciar que epístola em anexo chegue ao senhor Meu Pai. Não precisa saber de seu conteúdo.

Mesmo!

Confie em mim!

Tholen da Torre do Martelo.

Meuveaunt, Destino Chefe Bufir da Torre do Martelo, Forte das Armas, Cordilheira da Espada


Caro pai:

Estou em grande turbulência.


Imagino que tenha se reunido com o Mestre Castelão ao longo desses meses em que escrevo ao senhor. Claro, havia um pouco de desabafo na carta anterior por não poder cumprir a palavra dada em Hillsfar, postergando minha vingança. Mas isso é nada diante dos eventos mais recentes.

Deixamos Hillsfar na calada da noite, pois com aquele antro de ignorância, ou faríamos isso ou teríamos de eliminar todos os humanos – incluindo mulheres e crianças – daquela maldita terra... E não vou mentir que tal crueldade chegou a me ocorrer, mas eu sou um anão ocupado, como bem sabe, para perder tanto tempo.

Elventree ainda era paragem amigável, fora que Ulblin, nosso contato com os Harpistas, concordou que ainda estávamos ao alcance dos tentáculos de Hillsfar, e que retornar ao Norte seria uma boa coisa até os ânimos acalmarem. Ele inclusive nos conseguiu transporte. Uma barcaça de três mastros e 50 braços pertencente à pirata Scarlet do Mar da Lua.

Novamente, os harpistas nos envolvem com pessoas de índole, no mínimo, questionável. Mas em sua conversa, sentíamos que a cólera da capitã meio-elfo era direcionada a Hillsfar. Isso até o primeiro fim-de-tarde. Uma escuna foi avistada nos arredores. Não trazia bandeira – o que por si só o classifica como navio-pirata. Ao aproximar-se de nós, o brasão de Hillsfar eleva-se em seu mastro.

Era um combate que se avizinhava. Felizmente, a cólera rubra de nossa capitã era genuína, e ela passou a fazer manobras ofensivas. Mas sem saber se era uma mera patrulha ou se nos perseguiam, usei um disfarce de bucaneiro ordinário, para pegá-los de guarda baixa. Mas a peleja não chegou a começar. Faelar analisou nossos adversários e contatou grande número de não-humanos na tripulação, inclusive na capitania. Aquilo era incondisente com a política de Hillsfar.

Conseguimos da capitã um voto de confiança, e trocamos sangue por palavras com aquela escuna. Isso bastou para a bandeira da colina deixar lugar para uma branca. Tratava-se de meros comerciantes que escolheram um brasão assustador para assustar piratas, sendo infeliz ao por o alvo em si próprio, uma vez que Hillsfar era inimigo jurado da capitã... E nosso.

Mas daí ocorreu o que eu preferia não saber. A extorsão. Capitã Scarlet exigiu 10% da carga do saveiro para deixá-los seguir. E eu estava indiretamente envolvido.
Claro, antes de buscar um consenso entre todos, Faelar já auxiliava a capitã em suas ameaças. Nyn tentava apelar para o “coração” da corsária, mas foi inútil.

Eu? Estava dividido. Havia essa “lei do mar”, e a desvantagem era muito grande. Cinquenta bucaneiros contra menos de vinte na barcaça. E o próprio time estava dividido. O ninja obviamente tomaria o lado do mais lucrativo, e eu não queria parecer ingrato, já que ele permaneceu comigo nas ruas de Hillsfar contra os soldados. Acabei optando pela omissão.

Esta era mais uma face do “mal menor para controlar um mal maior” dos Harpistas. Hillsfar mantêm os Zhentarins controlados em terra, Scarlet mantém os hillasfarianos acoados no Mar da Lua. Bem, ao desembarcar, comentei que desejava voltar à tripulação... Mas se Hillsfar cair, a importância da meio-elfa vermelha desaparece... Por isso, não comentei quais seriam os termos.

O resto da cambada fez compras em Elventree mesmo. Eu sabia que Melveaunt teria melhores opções, por ser uma cidade maior. Depois de estabelecido no Guerreiro Flutuante, comecei a me informar sobre Yoham – o segundo da minha lista – E aprimorar meu equipamento. Isso me tomou dois ou três dias. Passamos bom tempo espalhados cada qual cuidando de seus afazeres.

A refeição era algo que acabava nos reunindo. Fazia um bom tempo que não víamos Gatts e Rick/Ricka. E com isso, era a primeira vez que o grupo não possuía humanos. Assim, eu e Faelar começamos a enumerar as desvantagens que esses mal-amados tinham. Coisa de viver menos de um século, não enxergar de noite, etc.

Eis que um ébrio barbudo se levanta. Humano torpe, avantajado. Decidiu tirar satisfações por nossos comentários felizes. E não satisfeito da pouca monta de ameaça que ele nos representava, agarrou-se à nossa mesa e a virou.

Claro, tencionava fazê-lo se arrepender de ter saído de casa naquele dia... Mas Faelar foi mais rápido. Rápido e desleal. Por uma mera briga de bar, começou a esfaquear o grandalhão, tal qual atacaríamos uma ameaça de verdade.

Eu separei-o um instante. Sangue já estava derramado, iríamos ter o que explicar em breve... E tentei levá-lo para longe do cretino... Mas foi só eu dar as costas, e o enfurecido ninja atacou de novo.

O que fazer? Eu o desarmei, e enfim, saquei armas... Mas com um truque, o bastardo deixou minha vigilância, e deu a estocada final, ainda torcendo lâmina no corpo do bêbado. No meio do bar, cercado de testemunhas... Não que isso fosse o único motivo para não esquartejarmos qualquer idiota que bate-boca nos bares!

Era a segunda vez em pouquíssimo tempo que o Ninja cai em meu conceito. Não sou bom de contas... Mas deixá-lo ir embora salda qualquer dívida que eu tinha com aquele assassino covarde.

O bolo fecal espirrou em todos nós. A Guarda da Cidade nos deu ordens para não deixar os muros da cidade. Bem, o que fazer? Sei que aqueles guardinhas não têm meios de pegar o ninja... E então compra inimizade justo conosco, que teria conhecimento e poder para levá-lo à justiça!

Os harpistas saltaram fora do barco na primeira oportunidade. E coisas como “princípio da personalização do crime” e “inocência até que se prove a culpa” não existem? Todos nós somos penalizados por conhecer a criatura? Quando desmantelamos a Boca do Inferno e debandamos o acampamento de ladrões nos arredores de Fylan, ninguém lembra...

O ninja tentou nos contatar de novo. Só causando mais desgaste em sua mãe, Nyn.

Então, meu pai, é isso: Virei as costas à justiça porque um malfeitor impedia o crescimento de outro, derramei sangue com e por seres menos que dignos, as ordens e os “poderes do mundo” são meramente interesseiros. Honestamente... Penso em concluir minhas vinganças autoimpostas e de lá retornar a minha casa ou juntar-me à armada de retomada de Tethyamar. Expurgar-me de Harpistas e ninjas para pensar com clareza, ou, se for o caso, morrer por uma causa digna.

Tholen da Torre do martelo, Vingador frustrado e Flagelo de Vorbyx.

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