quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Carta 014

22 de Elesias
Ao portador, destino Mestre Castelão do Forte das Armas, Cordilheira da Espada.
Caro Mestre Castelão.
Agora que vejo uma coisa curiosa... Comparando com nossas outras missões, Myth Drannor é a mais significativa para o grupo. Poderá trazer a solução para os problemas de Solomon - incluindo o de coragem. Também uma possível cura para Rikka, e consequentemente o perdão e a paz de espírito para Nyn. E para mim, é meio-caminho de volta para o Mar da Lua, onde deixei muitos assuntos inacabados.

Faylar e Rir estão no ôba-ôba... Mas comparando com as demais missões, 3 de 5 é um bom valor.


A lenda faz jus ao seu renome. Aquela região é opressiva, coberta por nuvens baixas formando um teto. Mesmo durante o dia é difícil ver o sol. Nosso "corredor de chegada" estava pesadamente encantado contra criaturas demoníacas, incluindo armadilhas explosivas, um recurso extremo. Sente-se que mesmo os malditos membros da Ordem do Dragão possui reservas quanto aos atuais senhores da região. E quando o Mau teme o Mau...

Como diria o jovem filósofo humano Dingo Foreingi de nossa terra: "O clima pesou, e fodeu tudo".

Nyn novamente nos guiou. Seguimos por uma alameda sombria - que era só "alameda", nas condições ambientais da região - com galhos baixos. Faylar adorou, pois podia trepar neles. Não sei se é coisa de ninja, coisa de elfo, ou coisa de... Melhor deixar quieto.

Mas fomos abordados. Alguém, apesar de tudo o que fizemos, nos aguardava.

Solomon teve um piripaque. Alguém falava na cabeça dele... Bem, falava MESMO na cabeça dele. E logo, um oponente invisível começou a se manifestar. Usava de agilidade e da cobertura para seus ataques, mas tínhamos Humano e a Okami, ele não ficaria oculto muito tempo. Era um demônio... Eh, do tipo mau. Para mim, bastava.

Faylar estava em igualdade de condições nas árvores, então ele conjurou um igual a ele. Armas normais não causavam dano àquela criatura, só Ferro frio. Mas como íamos a Myth Drannor, todos teriam armas de ferro frio, certo?

Errado! Só a mentalidade anã concebe algo como se preparar para a ameaça mais rotineira de nosso destino! Senti como se regredíssemos à época que fomos presos voluntariamente por Rowan vadia-rato!

Com a altura e agilidade daquele monstro, e só comigo usando armas efetivas, Decidi melhorar minhas chances e tomei uma das minhas recém-adquiridas Porções de Crescimento Inunchuck! Aquele velho chamado "apache" era mesmo um bom chefe!

A visão do colosso de poder honra e fúria foi demais para o demônio. Ele abandonou a contenda pouco depois. Ele prometeu voltar, enquanto sumia num teleporte com cheiro de enxofre. Foi desagradável perder o elemento surpresa... Mas ao menos triunfamos mais uma vez.

Pois bem... Bolinha-vai-bolinha-vem, encontramos uma construção. Era um cemitério, provavelmente os arredores da capital caída. Havia uma ampla torre na área, e pequenos pelotões de soldados da Ordem do Dragão acompanhado de seus zumbis. Imagino que mesmo para aquela baixa classe de ameaça a companhia de seres acéfalos era desagradável... Mas que se danem os Zumbis.

Estávamos prestes a entrar na região, intentando esgueirar-nos à torre, quando uma voz saiu de uma moita próxima, nos alertando a fazer o contrário. Solomon ficou ressabiado, e eu entendo... Vai que é uma fada.

Era um gnomo de nome Tarbashi. Por seu testemunho, um explorador e comerciante do que pudesse encontrar das ruínas... Ou seja: Violava túmulos de elfos atrás de segredos. Nyn não ficou muito contente com a profissão do pequeno... Por mim, não interessava.

Tarbashi nos atualizou sobre a situação política da região. Dos conflitos entre Zentarins, a Ordem, e Drows. E todos contra os demônios que infestam a área. Também que o cemitério foi uma grande cova raza de uma guerra entre os elfos e orcs, e por isso toda a noite uma legião de mortos-vivos erguem-se das tumbas, e mesmo os seguidores do baitola do Pelendalar (um dragão vermelho dracolich, aparentemente) refugiam-se na torre.

Isso significa que a bodega possuía portões resistente. Se tomássemos a base, faríamos uma limpa sem nos preocupar com os externos.

Enfim, fomos informados que os putos faziam sacrifícios de inocentes na torre... e que naquele momento preparavam Robalendi, sobrinho de Tarbashi. E daria prendas se auxiliássemos.

... Tática, missão, bondade e dinheiro. Acho que todos tinham motivação para atacar a torre.

Tentamos a manobra da zona de invisibilidade. Eu sabia que não iria funcionar, mas deveria ser mais fácil fechar portões do que levantar uma ponte de pedra. Podíamos nos dar ao luxo sermos descobertos uma vez no interior da Torre. E foi o que se deu. Dominamos os portões e o selamos. Depois, visamos destruir a resistência na base e impedir que qualquer um subisse para chamar reforços. Fomos relativamente bem sucedidos, pelo que pude avaliar. Tanto que de uma parede no norte, de onde vinham dois magos - devidamente esmagados - surgiam esqueletos quebradiços. Nyn poderia cuidar deles com dons clericais, mas poderia ser esperdiço para momentos mais desesperadores - como foi pouco depois - e, claro, não é tão divertido quanto eu esmagando-os.

Fechei a porta detrás de mim e fui detonar esqueletos. É um passatempo interessante. Descarrega sem ser uma verdadeira ameaça... Se você usar instrumentos de esmagamento. Novamente consegui fazer o Martelo de Vorbyx trovejar - sim, pois não sou tolo, deixei o Martelo de gelo com o grupo, vai que Solomon precise enfrentar esqueletos? Ele ia tentar cortar seres sem carne.

Foi o primeiro momento fodão. Aquele lugar era um alojamento dos soldados. O que os magos faziam lá, eu não sei... Mas ainda havia um guarda lá, de ceroulas, dormindo.

Devia estar exausto de alguma coisa... E novamente me perguntei o que os magos faziam lá... Mas é melhor deixar quieto.

Aproximei-me da cama dele, e sacudi-o O vilão rosnou "vá embora. Ainda não é hora de meu turno! Me deixe dormir".

Sussurrei gentilmente: "Eu acho melhor se levantar. A torre está sendo invadida..."

Esperei ele abrir um olhinho preguiçoso e completei:

POR MIM!

Diverti-me deveras com o dorminhoco desesperado de dispor-se desamparado e desguarnecido diante do Destruidor de Dol'oam! Sibilismo não-intencional... No começo.

 Com aquele prisioneiro soube que o ritual de sacrifício do Robalendi já havia começado! Algemei o covarde, levei suas calças (para ter certeza que ele não ouse deixar a proteção do quarto, se suplantar a algema) e segui.

 O corredor estava nublado e fedido. Mas nada ameaçador. Ouvia as vozes de meu grupo tranquilo num cômodo do outro lado do corredor, então estavam bem. Alcancei o segundo piso, que tinha seus quartos e diversas outras salas... E havia um velho covarde detrás de papiros.

 Mandei ele se calar e agradecer ao puto do Pelendalar que eu estivesse com pressa.

Mas no terceiro piso, havia quase uma duzia de soldados armadurados no aguarde. Aquilo iria me atrasar.. E se eu passasse, seria uma força considerável que iria atrás de meus companheiros. Tive de ficar para traz e lutar.

Os bandidos encontraram uma poderosa defesa em Tholen da Torre do Martelo, e na escada, eu poderia ficar por muito tempo sem que seu grande número importasse. Pouco depois de engajar a peleja, Rir e Faylar me alcançaram. Em pouco tempo, superamos os bandidos, e o resto do grupo chegou. Mas tinha perdido tempo demais, feito barulho demais. Minha idéia de blitzkrieg foi frustrada, deveríamos enfrentar um inimigo preparado.

Mais de uma dúzia, entre cavaleiros poderosos e zumbis, estavam no último lance das escadas, mais especificamente no teto da torre. Normalmente, recuaria para frustrar seu grande número, mas precisávamos libertar Robalendi, que estava acorrentado a um altar (porque sempre um altar?) ao lado do líder daquela torre... O Necromante.

Que o Faylar errônea e insistentemente chamou de Mago.

Não pude avançar, pois logo me vi cercado por seis ou sete. O grupo junto igualava a minha força, e com seu número neutralizava minha estratégia que diferisse de esmagar os que estavam ao meu redor... mas com isso dei a deixa para Faylar concentrar-se no Necromante. Mas o tolo insistia que era um mago, quando ele era um sacerdote negro. Muito menos recursos, mas mais resistente. O elfo penou por bom tempo em sua luta singular.


Nyn reduziu os zumbis a um mínimo - ainda bem que não esperdiçou sua "cleric bomb" com os esqueletos no primeiro piso. Rir enfraqueceu aqueles ao meu redor com explosões de chamas. Mas demorou muito para eu conseguir me libertar. O Necromante, percebendo que seu próximo adversário era Tholen, preferiu se jogar da borda da torre.

Não, não tanto para sacrificar a própria vida... Mas ele possuía meios para caminhar nas paredes. Eu tentei derrubá-lo, mesmo com inimigos remanescentes ao meu redor. Faylar estava livre e tentou flechá-lo, mas ... Ele não é um Tholen. O bandido fugiu e se juntou ao exército, que se amontoava na porta que fechamos.

Resmungávamos nosso fracasso e a baderna que foi aquela última incursão... Mas resgatamos com vida o gnomo. Passamos algum tempo debatendo as nossas opções. Ignorávamos completamente um último soldado que não estava na zona de destruição das bolas de fogo e de meu martelo. Ele chegou a protestar... Daí eu olhei para ele... E ele se entregou.

Com nossa experiência com os membros mentirosos da Ordem quando estivemos na Torre de Kurastan, Rir não confiava no bandido e tentou terminar com ele usando sua magia. Eu poderia mencionar a incompetência dos Gnomos mas... Melhor deixar quieto.

- Senhor, Você vai mandar um recado para seus aliados lá embaixo - falei.

Sem opção ele concordou com a cabeça.

- Aproxime-se da borda, e berre a mensagem!

Ele obedeceu.

- Repita exatamente o que eu disser, com sua voz mais potente.

Ele se preparou.

- Repita: "Arh".

- O que?!? - ele estranhou.

Aí eu empurrei ele.

Ele mergulhou para a morte berrando: "ARRRHHH!"

Foi um bom dia para tiradas fodonas.

Mas a situação é que estávamos cercados do lado de fora, e nem tínhamos certeza que a Torre não estava ainda apinhada de inimigos. Por mim, eu ficava e matava um-a-um. Podíamos aguentar bem o cerco... Mas o grupo não estava tão entusiasmado. Assim, procuramos um meio de sair daquele lugar... Muito provavelmente o Necromante teria seus meios.

Encontramos o quarto dele... E lá dentro, tinha um texugo atroz.

Sério, deve ser o animal mais comum do mundo depois de vacas e galinhas. Mas para Rir, que não nos acompanhou esse tempo todo, a hesitação contra um texugo - mesmo um enorme e ameaçador - era incompreensível.

Eu aprendi na minha estada no Vale das Sombras a acalmar a natureza das feras... Mas o Texugo é um animal incorrigível. Então, Faylar decidiu tacar flechas na besta.

- Boa, elfo! - comemorei. - Ele vai atrás de você e deixa a gente explorar este salão sem problemas.

A criaturinha realmente tinha fúria nos olhos na direção do elfo. Rir decidiu tirar a prova e atacou a criatura com sua magia... E já mencionei a competência dos gnomos, não?

Com aquele olhar colérico, e o fato de ter tomado os dois ataques numa boa, o pequeno aprendeu a lição. Quando Faylar correu, na perspectiva de eu abandonar colegas a perigo, o gnomo foi atrás... Alias, foi antes!

Sobrou para eu e Humano desafiarmos a pequena fera. Meu fiel companheiro me poupou das desagradáveis mordidas daqueles dentes cortantes com sua fúria de caçador. Esse é meu bravo amigo!

Ouvíamos vozes lá debaixo. Passos e rosnados de zumbis. Deixei os demais encarregados da procura por portais ou pergaminhos de teleporte, e fui escorar a porta. Tomei outra porção de Inunchuck do Chefe Apache, e quando os zumbis subiam as escadas, um majestoso anão de três metros de altura os esmagava.

Sei que demorou bastante... Mas eles encontraram um espelho de duas vias. Uma versão menor do que nos trouxe de Kurastan até Myth Drannor... E abandonamos aquela torre.

Com a liberdade, Tarbashi nos guiou a sua casa/loja. Os "abençoados" dos meus companheiros conseguiram munição contra-demônio e outras coisas que não adquiriram em uma semana na capital do Vale das Sombras. Ao menos, como recompensa, adquiri um chapel dos Disfarces. Pesando tudo, foi uma vitória.

Pela manhã, rumaremos à velha cidade. Iremos atrás de um "poço do Resplendor" ou da Radiância... Que seria solução para os problemas dos outros. EU e Humano seguiríamos pois foi a palavra dada. Sei que fui derrotista anteriormente, mas hoje eu sinto-me confiante. Se com os planos frustrados triunfamos tão magistralmente, não há ameaça grande demais para os Desbravadores do Thar!

Eu e Humano viajaremos ainda muito tempo nestas terras... Sempre juntos!

Até breve, meu senhor!




Nota do autor: Infelizmente, Humano morreu naquela manhã, quando fomos emboscados por três trolls.

E também infelizmente, terei de suspender o Flagelo de Vorbyx por tempo indeterminado. Nosso narrador mudou o direcionamento da campanha, e experimentaremos novos personagens e novos sistemas.

A boa notícia é que planejo adaptar O Forte das Armas para outros cenários, para ser usado como cenário ou mesmo como background para personagens anões. Mais notícias em breve.

Que sua barba cresça como as raízes do carvalho... E obrigado pro acompanharem Tholen por todo esse tempo!

Dr. Hardman.

Um comentário:

  1. Demos uma pausa quando o narrador Márcio decidiu mudar o sistema para GURPS. O projeto seria adaptar os PJs, mas como houve grande resistência (futuramente justificada), ele começou uma saga. Nela, eu desenvolvi uma succubus chamada Hellen.
    Nem os PJs sabiam que ela era um demônio, foi uma experiência interessante, apesar do Narrador mudar mais algumas vezes o sistema e por conseguinte as habilidades de minha personagem mudar radicalmente e incoerentemente.
    Fiz um diário para ela também. Ainda buscava algum contentamento autoral para um progeto similar ao "Flagelo de Vorbyx". Mas o Márcio deletou tudo relativo á época.
    Mas é aquilo que eu assumi como mote de vida: Aprendi e cresci com as piores experiências. Resguardei o mais positivo... Mas não pretendo repeti-las.

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