terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Carta 015

22 de Elesias
Ao portador, destino Mestre Castelão do Forte das Armas, Cordilheira da Espada.
Caro Mestre Castelão.

Faz só algumas horas desde a última carta que escrevi, meu senhor. Mas sinto como se tivessem sido três meses... Como se passasse meses importantes como os festivos fins de ano congelado no tempo para o deleite de algum demônio do inferno.

Só assim consigo descrever como foi a primeira aventura desde que Humano faleceu. Como se eu precisasse de motivos para não gostar do elfo ninja...

Vamos resumir: estávamos recem-saídos daquela torre maluca na entrada do cemitério, onde fomos resgatar um gnomo sobrinho do Tarbashi, que encontramos no caminho. Emergimos na floresta, onde fomos atacados por trolls, três enormes aberrações verdes. Sobrou para meu cachorro.

Com calma, descobrimos que a Ordem do Dragão buscava componentes para um ritual que traria à vida um dracolich. Mas não era nosso caminho. Íamos à capital do caído reino de Myth Drannor atrás de cura para a esposa/esposo de Nyn e resolver um problema de visões e pesadelos de Solomon. Mas com o cemitério capengado, decidimos antes explorar criptas aleatórias e se desse impedir um poderoso e tenebroso inconveniente de emergir.

Nosso precavido companheiro Solomon se recusou... Se recorda-se, "precavido" é um termo humano que significa "cagão emasculado" em nosso idioma. Acho que não o veremos nunca mais... Ainda bem que esqueceu de pedir seu quilhão do tesouro. Acho que Nyn está aprendendo alguma coisa com nossas viagens.

Tarbashi e seu sobrinho decidiu nos acompanhar, mas já falaram que não serviriam em um combate.

Bem, é a história da minha vida. Vamos nessa.

Por questões estratégicas, decidimos começar por uma tumba no norte, que pertenceria a Sir Lyssic, um general humano do reino caído que era tão fodão que quando o reino precisasse de novo de sua espada, ele se ergueria da tumba e salvaria o dia mais uma vez. Creio que ele dormiu demais... Então, não era um saque à tumba, e sim um serviço despertador.

Esgueiramos pelos poucos metros numa rampa completamente escura. Percebemos que aquela tumba não havia sido vasculhada pela Ordem, mas que ferramentas e escoras aguardavam em carroças próximas. Aquela seria nossa única chance de ter uma dianteira na busca sobre os malditos. Por isso não fomos ver os escravos que os desgraçados mantinham para seu trabalho sujo... Mas a verdade é que não estava a fim. Só isso.

A fachada - em especial estátuas que ornavam a entrada - mostravam que aquela tumba foi selada por escombros, talvez de um terremoto ou da construção menos-que-satisfatórias das raças não-anãs. Mas pude empurrar a pedra sem dificuldade. Mas por essa atitude, nosso vigia percebeu que alguém esgueirava-se no matagal da desolação.

Como nenhum alarme foi dado, talvez fosse um neutro entre nossos interesses e os da Ordem, ou era um péssimo vigia que estava nos seguindo ainda em dúvida se éramos invasores ou não. Decidimos guiá-lo ao interior da tumba, onde ele não poderia alertar o resto da Ordem de nossa presença. E assim fizemos. Nosso perseguidor era um humano loiro delicado com papos de grandiosidade. Ao menos respeitou ao ver que quem iria bater na muqueca dele era um anão. Ao menos era sensato o tal Vladmir, o feticeiro... Mas não gostei dele.

Bem, é a história da minha vida. Vamos nessa.

A tumba, enfim, era subterrânea, e maior do que esperava. Vimos restos de tochas e passos indicando que uma parte dela havia sido investigada, mas não pela Ordem do Dragão, como falei. O caminho dividia-se para dois lados, um não explorado pelos nossos antecessores. Fomos para lá primeiro, temendo que já tivessem pilhado o alternativo. Nos deparamos com uma porta de carvalho sólida. Faylar chamou para si a responsabilidade de destrancá-la. E isso nos fez perder minutos e mais minutos.

Bem, é a história da minha vida. Vamos nessa.

Entediado, decidi descer para ver o outro caminho, que os aventureiros anteriores já haviam destrancado. A primeira passagem dava em uma alcova sextupla. De lá, seis esqueletos se ergueram, e eu lá sozinho... História da minha vida...

Recuei ao corredor onde os números do bando não me deixariam em situação escabrosa. Alertei só formalmente ao resto do grupo do problema, mas deixei claro que era para ninguém atrasar o ninja. Mas o senhor que lê meus textos sabem como são os elfos, não, nobre mestre? Nyn carregou a luz para longe do ninja, que nem pode terminar seu serviço após todo aquele tempo perdido, nem pode apressar-se a se reunir conosco por não ter luz própria!

Aqueles seis esqueletos eram irrealmente resilientes e talentosos com as armas. Mas o humano Vladmyr mostrou-se devastador contra os inimigos singulares, e Nyn estava pronto para o perigo normal de um cemitério maldito. Usou as bênçãos da deusa Mystra para afugentar os mortos, e daí foi só eu triturar ossos.

Percebi antes da luta que o grupo anterior passou por aquele mesmo desafio sem precisar eliminar os morto-vivos. E vasculhando a “cadaveria”, encontrei um anel de ouro branco. Dizia "livre passagem" em élfico... E parecia mágico. Mas chaves para as portas anteriores não achamos.

 Seguindo as pegadas do grupo anterior, achamos outra porta destrancada. Nesta, um altar de chamas azuis com uma espada larga e muito bem-feita aguardava. Mas também haviam algumas centenas de estátuas de elfos miúdos ao longo da câmera. Sério mesmo que o bando anterior sequer tentou pegar a espada? Era meio que óbvio que era uma armadilha, e por isso deixamos a arma - que não era mágica, apesar de finamente trabalhada - no lugar.

Um explorador mais competente estaria desenhando o percurso, mas este talento eu não tenho, meu senhor. Então vislumbre comigo: o caminho original bifurcou-se para esquerda e direita, ambos dando em portas nas paredes na mesma lateral. A da direita avançando por vários metros, passando pelas duas ciladas, e enfim, encontrando-se em um caminho que subia à esquerda até encontrar outro, que provavelmente era uma extensão da porta que não abrimos, fechando o circuito.

Na metade deste último, uma escada descia na parede oposta ao resto da câmera, enquanto uma alcova na parede adjacente mostrava pinturas de guerra...

... E essa porra está muito confusa. O que importa é que eu achei uma passagem secreta antes dos elfos afrescalhados.

Lá dentro, um gnomo com algum tempo de morto por empalamento de lanças que emergiam do chão. Aquele deveria ser membro do grupo anterior, e muito provavelmente um vermezinho desleal que tentou esconder dos camaradas sua descoberta e foi deixado lá por isso. Digo porque ele ainda tinha seus pertences consigo. Um anel que deveria ser anel da proteção (cedido ao ninja, pois já tinha um desses) e outras miudezas... Ignoramos ante um novo altar de chamas azuis com uma baita de uma espada.

Relembrei da falsa tumba de Vorbyx, em que um martelo foi deixado para ser confundido com a arma pessoal do rei ogro. Bah, eu ostento os dois hoje! Mas provavelmente a primeira espada era para isso: saqueadores encontrariam a armadilha, acreditariam que seria esta arma, e iriam embora. Nyn confirmou que era uma arma mágica, ao contrário da outra.

Vladmyr voluntariou-se para pegá-la. Berrou como uma moça.

Bem, é a história da minha vida. Vamos nessa.

Descendo as escadas, chegamos um salão com água até nossas canelas (ou cintura, para os gnomos), com quatro cadáveres. Estes provavelmente o resto do primeiro grupo de saqueadores... E não sei porque eu deduzi que as duas enormes estátuas guardando uma porta de pedra foram as responsáveis por aquele massacre... Creio que fiquei calejado de buracos mortais no chão.

Lembrei que tinha um anel da passagem. Talvez aquela fosse a chave para entrar na tumba... Ou permitiria que passássemos sem que os colossos de rocha caiam em cima de nós.

Ah, claro, tinham duas portas antes, esquerda e direita... E após pegarmos os despojos do grupo fracassado, eu abro uma aleatória, apinhadas de esqueletos... De novo.

Eram mais de vinte. Felizmente não tão cascudos quanto os anteriores... Nyn explodiu quase a totalidade com suas bênçãos. Na sala oposta o ninja achou algo que não imaginávamos ser possível:

Mortos que não se levantaram de suas tumbas para pular em nossos pescoços!

Ainda estava testando a teoria do anel ser a chave. Realmente eu cheguei perigosamente perto e as estátuas não fizeram nada... E então avaliei a porta. Haviam dois sulcos e nada mais, e a porta corria para cima. Dedusi que uma espada serviria de chave para aquela porta...

... A maldita espada falsa em chamas no quarto com a armadilha das estátuas.

 Moradin sagrado me dá paciência que quem projeta essas tumbas não pensa na praticidade.

Ao menos consegui que o ninja e o Vladmyr fossem buscar a espada. Iam invisíveis e iriam se queimar... Mas se fossem espertos, os leprechauns não os avistariam. Aproveitei o tempo para escrever esta cart...

... O ninja voltou. Eles fizeram merda e não conseguiram. Vou lá com uma porta que derrubei para escorar. Quando voltar falo como foi com os construtos.

Bem, é a história da minha vida. Vamos nessa.

Tholen da Torre do Martelo, Flagelo de Vorbyx, o imã de esqueletos.

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