segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Carta 011

12 ou 13 ... Não sei ao certo o dia.

Caro Mestre Castelão.


Escrevo do interior da masmorra de Ashaba. E muito provavelmente esta será a última carta que escreverei. Mas ignore o tom derrotista. Pois se ela o alcançou, outro o alcançou com a boa nova. Conclui minha jornada.

Vejo hoje como trabalha o destino. Os viajantes escolhidos pelo senhor rumam para os reinos d'outrora sem expectativa de retorno, quiçá com triunfo. Eu vislumbro o senhor meu pai, Bufir, se não fosse o chefe de nossa Torre estando em meu lugar ao longo da viagem. É melhor anão e melhor guerreiro do que eu... Mas dificilmente deixaria o Thar enquanto não cuidasse da maldita aldeia de ogros. Jamais confiaria nem mesmo na primeira vez quando conhecemos a meretriz-rato Rowan. Não viajaria para tão longe de sua missão como nós ao nos apossarmos do Martelo de Vorbyx e da informação dos portais.

Ele jamais entraria em Ashaba. Ele era um homem de serenidade, não arriscaria a vida por mero tédio e ganância como, agora admito, foram as principais forças que me trouxe a este submundo.

Ganância não só de moedas. Ganância do reconhecimento que tivemos onde passamos.

um "defeito", que me foi essencial para encontrar os Emissários de Tethyamar.

Detalhes da masmorra aos pés da torre retorcida, se tudo deu certo, estará em poder do Cap. Turbal. Embora ocupado, rude e humano, não vejo porque ele não permita a um conterrâneo meu que vislumbre o mapa que Nyn rabiscou enquanto nos aprofundávamos no intrincado labirinto de túneis ao custo de nosso sangue. Mas deste, que menos talentos tem, segue um relato dos eventos.

Portas e portais lacrados pelos humanos com magia e carvalho mantinham o trecho indominado da masmorra isolado da superfície onde se tinha acesso à capital de Shadowdale. Nosso pequeno grupo tinha o pouco dispendido para o acesso aos perigos subterrâneos. Já na entrada, tivemos o primeiro monstro a derrotar. Era uma lacraia esquisita habitando um crânio como os moluscos ermitões assenhoram-se de caracóis do mar.

Enfadonho, mas teve sua função. Os barulhos da luta despertara a atenção de alguém envolto em sombras. Era um elfo esguio - mesmo para os padrões élficos. Francamente, acredito que mesmo Nyn poderia nocauteá-lo com um soco, se é que o pequeno fosse dessas coisas.

Seu nome, Faylar Eveningfall. Era um elfo do sol que cresceu na lua argenta - ironia - e tornou-se um enviado daquelas terras. Ele alegou que estava em missão parecida com a nossa, mas na verdade o grupo dele o abandonou à própria sorte com intensões fatais.

Deve estranhar eu ter memorizado tudo isso do elfo, imagino. Mas quis manter as informações na memória para flagrá-lo em contradição e desmascarar outra ameaça. Pode parecer paranoia.. Mas aguarde eu chegar ao Simon Stonebreake.

A princípio, não gostei dele. Agora, que escrevo esta carta, continuo não gostando. Mas vejo que aventuras próximas nos guarda uma relação de tolerância velada com desagrado mútuo... Mas realisticamente, Ele vai correr mais rápido que nosso precavido Solomon para fora daqui quando o aperto começar.

Vagando algum tempo depois, esbarramos em armadilhas, desde troças de gatilhos até ilusões complexas. E em algum momento nos confrontamos com as aberrações chamadas Quagoffs. Feras peludas e selvagens como bárbaros. Estavam armado com montantes de baixa qualidade. Eu os fiz sangrar para preservar minha vida e dos meus acompanhantes... O que pode ter sido um erro, mas mesmo com o conhecimento atual, não vislumbro outra alternativa.

As masmorras até aquele momento não apresentava desafios físicos dignos, fora armadilhas que caíamos por curiosidade, e não por descuido. Minhas intenções, conforme mencionei em carta anterior, nem era completar a varredura. Apenas o suficiente para fazer valer o acordo com Turbal.

Determinado trecho, ouvimos passos e berros. Alguém urrou: "Encontrem o maldito anão". Deduzi que eram aliados dos Quagof. Admito deixei minha vaidade transbordar. Pois os vilões sabiam a quem acusar de sua desgraça. Desprezavam até mesmo os elfos que nos acompanhavam. Capitaneei-os para um confronto de cerco, mas expus-me para atiçar sua ira a cometer erros.

O bando, uns cinco orco, olhou para mim com um ar de surpresa e desconhecimento. "Quem seria aquele vaidoso anão, de braços abertos, oferecendo-se como adversário?" - devem ter se perguntado. Uma lição que Moradin me passou. Mesmo porque cinco orcs contra mim? Quando minhas armas voaram letalmente nos dois da frente, os três restantes fizeram vento ao deixar o lugar tão rápido quanto era fisicamente possível.

E então, conhecemos Simon Stonebreak.

Só posso supor as desgraças que foram infligidas no anão. Era horrendo e magro devido à escravidão de Drows. Mas o que deve ter sido feito ao seu orgulho me preocupa. Estava com um companheiro de raça. Mesmo não sendo um orgulhoso filho de Dol'oam, mesmo não sendo um guerreiro, tinha a lealdade anã em suas veias. Mas por causa da visão imparcial, Nyn viu na mente do flagelado imagens dantescas. Simon havia sido libertado para conduzir-nos a um túmulo aquático para nos afogarmos.

Imaginei ainda uma emboscada. Mas os covardes elfos de pele sombria não ousariam ir tão longe. Permitimos que Stonebreake deixasse aquela masmorra pelo caminho que viemos. Não pretendíamos ficar muito - recordando-me - mas trocar algumas ideias com os drows que fizeram aquilo com Simon era uma questão moral.

Encontramos a suposta armadilha e uma mesa ritualística. Nela, uma lendária espada Drow num compartimento secreto - Fleshslayer. A magia naquela arma maligna chegava a transbordar de sua lâmina de âmbar

Ainda seguindo o rastro pelo qual os orcs deviam ter fugido, esbarramos num longuíssimo túnel de vento. era estreito e baixo. O caminhar era lamurioso, e o barulho da ventania, ensurdecedor. Tivemos um contratempo perigoso... Ratos e um grande texugo atroz faziam sua caça no mesmo túnel, na direção oposta. Os ratos, incômodos, só passaram por entre as brechas de nossos corpos. O texugo, besta de considerável porte, precisava passar por nós.

Com a presteza de Faylar, neutralizamos a fera. Ao custo de dentadas e mordidas, mas eu sobreviveria. Já me sentia muito melhor quando pudemos deixar o minúsculo túnel. Mas os ventos carregavam outras coisas.

Palavras.

Palavras num idioma familiar. a mensagem era irregular, mas ficou claro. Haviam anões prisioneiros em algum ponto daquela masmorra. Talvez familiares de Simon? não importava. Mas eram muito mais que isso.

seguimos até uma zona de escuridão que ocultava um fosso com cravos. Com exceção de Solomon, não era um desafio uma vez alertados. Mas tivemos a mais bizarra situação possível.

Numa ampla divisão de caminhos havia um humano muito velho. Parecia transloucado, treinando um cão a pular, guiando-o com uma varinha mágica. Usava mantos marrons de arquimago.

Quando percebeu nossa presença, falou: "Oh, não sabia que tinha tanta gente aqui!" e... desapareceu.

Aparo minhas barbas se aquele velho louco não era o próprio Elminster.

Tive de reconsiderar muito de nossa situação após aquilo. Mas o estado abalado me permitiu achar acidentalmente uma massagem secreta, além das quatro da divisão normal. Sempre aprendi que as passagens secretas são as que tem segredos. Ou pelo menos um caminho pelo qual ninguém espera transeuntes..

O caminho desembocava em um lago. O amplo lago com um porto do extremo oposto, um caminho sinuoso para o sul, e barcos. Lembra, meu senhor, quando nos frustramos em Galath por não ter armadilhas inundadas em seus porões? Apesar disso, não me desfiz do meu repertório. A gema incrustada em minha armadura me tornava tão mortal em água quanto na terra. Algo que quem olha para um anão com sessenta quilos de aço pendurado nos ombros não imaginaria. Mas o lago era amplo. Bestas de vários tamanhos poderiam se ocultar lá...

... Optamos, ante a coragem de Solomon e Faylar, que eu e Humano fossemos na frente. Amarramos cordas no barco, caso uma retirada fosse necessária. Então, apareceram os quatro seres da profundeza Escamosos, espinhudos e verdes. Avaliei a ameaça e não me senti intimidado. Até estranhei a hesitação de humano naquele confronto. Deduzi que fosse medo da água.

Mas eu bastava. Tholen da Torre do Martelo. Invadi o território das bestas e fiz valer meu poder.

Ah, meu senhor da forja como aquilo deu zebra...

... Os quatro foram mortos. Se expostos, eram fuzilados pelos meus aliados na superfície... mesmo humano destrinchou um. Quando mergulhados, era só a questão de tempo até eu o alcançar.  Mas subestimamos o líder das criaturas.

A sombra colossal agitava as águas. Havia algo lá. Algo enorme. Eu havia previsto aquilo, mas quando os peixes miúdos apareceram, estava crente que havia sido excesso de zelo. Coisa que ocorreu antes.

Com minha movimentação, era mais fácil ir ao extremo do porto do que retornar aos meus companheiros. Eles ainda teriam como se abrigar. Aquele seria um desafio mais duro... mas nem imaginava o quanto.

A aberração, mesmo submersa, tomou controle de minha mente. Pouco me lembro do período, mas segundo testemunho de meus companheiros, o monstro usava-me como isca, tentando atrai-los ao lago, para destruir todo o grupo. Mas Solomon, com um senso de liderança jamais apresentado desde o dia que o conheci, bateu o pé e disse que não iriam me abandonar.

Nyn ficou com um "sorriso ondulado", incerto de como reagir àquela narrativa. Não que precisasse para eu saber que foi uma mentira deslavada. Se o Martelo de Vorbyx não estivesse comigo, o Caçador de demônios estaria alcançando o Velho Crânio antes de eu cair na água.

Só recobrei a consciência porque a aberração derrubou Rikka na água.

Ah, percebo agora que não mencionei que Rikka juntou-se ao grupo na masmorra pouco depois do nosso encontro com Faylar. Mas isso foi porque a humana me irrita.

Ela conseguiu entre um tentáculo e outro quebrar o feitiço e me libertar quanto o grupo confrontava a aberração. Mesmo Nyn estava a poucos metros da fera. E devo ter sido atingido na cabeça duramente, pois tive a impressão que Nyn... lutava?!?

Devo ter bebido água do lago demais.

Tholen da Torre do Martelo juntou-se à luta. A maciça criatura era nada mais que um alvo extremamente enlarguescido para direcionar minha fúria. Esmaguei e congelei carne, escamas e entranhas. E enfim, a monstruosidade perversa quietou-se imóvel.

Nadei, exausto e humilhado por ser o socorrido para variar. Aqueles longos instantes em que eu era apenas uma isca forçou meus companheiros a dar mais de si do que deveriam. Acreditava que nosso trato com o capitão de Ashaba estava mais do que cumprido.

... Mas ainda tinham os misteriosos reféns anões.

O grupo atravessou o lago pacificado, e fomos investigar o porto. Havia uma porta que dava a uma sala ampla, com tudo o necessário para um repouso e respiro. Enquanto todos se preparavam, fui vasculhar os corredores do mini-complexo. E encontrei um segundo anão.

Este, pior que Simon. Inconsciente, com um talho na garganta. Mal respirava. Levei-o às pressas para Nyn, mas este estava exaurido com o último esforço. Recorri às porções de cura que eu carregava. Foram o suficiente para despertar o anão e restaurar sua força, mas não a garganta estraçalhada.

Aquele era Tilyase Talltales, sacerdote de Durmantoy. Ao contrário de Simon, ele não se submeteu aos captores drow. Pagou com a carne sua rebeldia.

Ele era um dos refugiados de Tethyamah.

Aqueles lá eram da comitiva do Rei Gellinar do Clã de Ferro. Mesmo após tudo o que passou, não deixaria aqueles dos seus lá. Não preciso dizer o quão solidarizo com a causa.

Com os companheiros exaustos, mesmo o nobre Talltales que esteve à beira da morte, saberia que seria suicídio rumarmos imediatamente. Deveríamos recuar a um lugar mais seguro para que eles se recuperassem. Tornamos a alcançar o corredor dividido onde o velho mago louco surgiu e sumiu, e decidimos por um dos caminhos. Este em que estou agora. É uma caverna úmida por um geiser. A água é escaldante, mas não achamos ameaças, e podemos defender aquele aposento. Encontramos armadura de um humano, deveria servir em Mestre Tilyase.

Como arma, entreguei-lhe o Martelo de Vorbyx. Se ele fosse enfrentar os inimigos conosco, precisaria de uma arma poderosa, e eu estava com as mãos cheias com meu martelo de gelo. Pode parecer uma má ideia, mas se tudo acabar mal, se não houver como resgatar os enviados de Tethyamar, é mais importante que ele saia destas cavernas infernais do que eu mesmo.

Se Tethyamar não puder renascer, que sua memória permaneça viva.

Este nobre sobrevivente, assim como esta carta, devem ser protegidos e guiados ao Forte das Armas, na Costa da Espada. Digam meu nome, e seu acesso será assegurado.

Eu realmente queria permanecer nesta terra. Há muitos que eu quero esmagar. Os traiçoeiros, os malignos, os covardes cruéis Imagino não ter deixado assuntos pendentes caso seja minha hora junto às fornalhas de Moradin, mas queria ir com algum crédito.

Ah, dane-se! Emergirei com o inferno rugindo sob meus calcanhares triunfante. O triunfo não deve ser para acomodar-me... Mas para redobrar minha força e coragem! Eu sou o Flagelo de Vorbyx, libertador de Galath! Trituro ossos e congelo o sangue! e Ai de quem ficar no caminho de Tholen da Torre do Martelo!

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